segunda-feira, maio 29, 2006

A Colméia

Era uma vez uma linda colméia. Viviam nela centenas de abelhas. Eram, em sua maioria, abelhas dedicadas, trabalhadoras, abelhas de família que usavam de sua dedicação para prosperar cada vez mais sua colméia. Não que elas tivessem opção: Quem não trabalhasse duro viveria fora da colméia e quem se rebelasse seria encarcerado no canto leste da colméia. Para que as coisas continuassem desse jeito – prósperas, seguras e felizes – a Abelha-Rainha confiava em suas subordinadas indiretas - indiretas pois, na verdade, não havia nenhuma relação de ordem entre elas - : As Abelhas-Repórter. Esse tipo de abelha, criado por essa colméia, tinha a nobre missão de levar, para as outras abelhas, informações sobre os acontecimentos recentes na colméia. Desde que incluíssem nessas informações doses de terror, medo, ilusões e outras tantas coisas.

Mas todo esse poder não atingia as malfeitoras da colméia. Na prisão não havia repórteres. Apenas um conjunto de abelhas que cometeram crimes e estavam ali, sem futuro. Pelo menos até alguém – que não se conhece até hoje – resolver burlar o sistema e tentar comandar a sua velha gangue de dentro da prisão: Foi um sucesso. Várias outras abelhas aderiram ao método e o melhoraram com o tempo. A Abelha-Rainha não soube disso por muito tempo. A prisão era como uma lata de lixo onde nunca se trocava o saco. Ninguém ligava para as abelhas que cometiam crimes – Afinal eram maçãs podres que nasceram ruins e que deviam ser mortas. Quando a rainha soube era tarde demais. Elas tinham o poder.

A rainha decidiu então descobrir quem era o chefe do grupo. E, ao descobrir quem era, resolveu expulsa-lo da colméia. Achou que fazendo isso obteria vantagem sobre as outras abelhas: Se enganou profundamente. As prisioneiras se rebelaram e tomaram conta da colméia. Saíram usando os seus ferrões perfurando quem fosse contra elas. Queimaram mel e exigiram a volta de sua chefe.

As abelhas trabalhadoras foram todas para suas casas e recebiam notícias das Abelhas-Repórteres que faziam o que mais sabiam: Botar medo e ascender a raiva contra as abelhas do cárcere. Finalmente notavam a presença destas abelhas. Mas não do jeito esperado pelas criminosas. Elas queriam mostrar também que, na prisão do leste, se encontra um terço da população da colméia e que todo dia abelhas morriam por falta de cuidados, de alimentação e de higiene. Mas não, as abelhas trabalhadoras queriam que cortassem as cabeças das abelhas revoltadas.

Enquanto se perdiam nessas fúteis discussões – inflamadas pelas Abelhas-Repórter – não viram o desenrolar da rebelião: A chefe das abelhas criminosas voltou, as abelhas-guarda foram humilhadas, a Abelha-Rainha trocou suas calcinhas molhadas. E assim os dias se passaram: As abelhas compraram mais cercas para suas casas e esqueceram do acontecido.

quarta-feira, maio 10, 2006

Bálsamo

- Me conta uma história de amor - ela me pediu.

Estávamos sentados debaixo de uma árvore, em um bosque silencioso, perto de casa.
O sol amenizado pelas árvores e uma pequena pilha de amoras recém colhidas ao lado.
Deitou no meu colo e esperou uma resposta.

- Uma história de amor... - inclinei a cabeça para trás, pensativo - mas só conheço histórias de amor tristes, você não
vai querer ouvir uma história triste de mim!
- E que história de amor não é triste?

O argumento era forte. Lembrei de uma antiga história, dos tempos de reis e rainhas.

Há muito tempo atrás, havia um reino muito pacífico, com um povo sadio e trabalhador, que tinha comida na mesa todo o dia, pois seu velho rei era muito gentil, e sabia como equilibrar seu desejo por riquezas com a necessidade do povo.

Seu filho, Tristan, estava apaixonado por uma moça que vivia no castelo, nobre, linda, de cabelos negros, olhos verdes e roupa clara como a luz que transmitia. Tímido, certo dia o rapaz teve uma idéia. Antes de acordar, plantou uma espécie rara de orquídea em um lindo vaso, muito grande. Deixou-o no corredor, ao lado da porta do quarto onde vivia Elpis, junto com um bilhete.

Ao amanhecer, Elpis percebeu o presente, e leu a mensagem deixada por seu pretendente:

"Estou perdidamente apaixonado. Espero que me perdoes por ser direto, mas sou
muito tímido, e espero que aceite este humilde presente. Dentro do vaso, há uma
flor quase tão linda como você, que irá crescer saudável e forte, assim como
espero que crescerá nossa relação. Regarei e cuidarei dela todos os dias. Caso
você não esteja disposta a tentar, apenas desplante a semente. Do seu amado,
Tristan"
O tempo passou, e a semente começou a germinar. Tristan e Elpis se amavam cada vez mais conforme se conheciam. A planta florescera, frondosa, e foi mantida como um símbolo do amor entre os dois, muito bem cuidada. Até que um dia, o rei, pai de Tristan, faleceu. Ambos ficaram muito tristes com a notícia, e ficaram abalados com a posição que Tristan teria que substituir. Seu pai fez muito pelo povo, e agora ele teria que continuar.

Tristan e Elpis se casaram e assumiram o governo do reino. Mais de uma década se passou e situações difíceis vieram. Uma doença se estabelecera no reino, e Tristan não era capaz de cuidar de seu povo. Não haviam mais animais sadios, nem a bela paisagem que antes cobria o lugar. Tristan começou a poupar riquezas para cuidar da nobreza e de si mesmo, cortando todos os gastos possíveis.

Um dia, Elpis acordou, saiu de seu leito e percebeu que a planta estava seca, quase morta. Foi até seu marido e perguntou:

- Querido, o que houve com nossa flor? Ela está muito seca, quase morrendo.
- Ah, eu ia lhe contar querida: demiti o jardineiro


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Aos que não me conhecem, muito prazer ^^
Sou Diogo Ribeiro, vulgo Fou-Lu. Estou colaborando com o blog há algum tempo, mas não me sentia a vontade de postar algo. Gosto muito do conteúdo daqui, então fico encabulado de postar alguma coisa que estrague ^^ Por sugestão do Morb, postei um texto do meu blog próprio... Gosto muito dessas coisas de contos e historinhas à lá rpg =P

Abraços!

domingo, maio 07, 2006

Itinerários

Eram 18:15h quando se encontraram pela primeira vez. Ela marcava consultas em um hospital particular local. Ele era caixa de um famoso supermercado. Estavam em um ônibus indo para suas respectivas casas depois de um cansativo dia de trabalho.

A noite vinha bonita: Lua Cheia, Vento fresco, estrelas brilhantes, um carro ultrapassando o sinal vermelho e fazendo com que nossas personagens dessem de cara no banco da frente. Depois de dez minutos de palavrões, desferidos pelo motorista, o susto passou e os dois começaram a rir da situação. Logo começaram a conversar e viram que tinham muitos gostos em comum. O homem estava encantado com sua companheira de assento e decidira que a conquistaria a qualquer custo.

Então, todos os dias, ele tratava de puxar algum assunto de interesse dela e tentava impressiona-la cada vez mais. Decidiu, então, convida-la para sair. Conhecia um bar perfeito para a ocasião. Antes de sair do trabalho foi ao banheiro, escovou os dentes e usou uma enorme dose de desodorante. Era o dia perfeito, tudo estava pronto: A fala, a malícia, o cheiro. Só faltava uma coisa: Ela estar no ônibus. Nosso herói ficou deprimido na mesma hora. O que teria acontecido? Os dias foram se passando e nenhum sinal dela. A cada dia seu coração o apertava mais. Ele se sentia doente, com algo o pressionando. Parecia cercado por uma multidão o pressionando a fazer algo. E, assim, decidiu tirar essa história a limpo. Mas não tinha como achá-la. A não ser indo no hospital onde trabalhava nossa linda dama.

Ao chegar lá pediu a informação direto na sala de marcação, afinal ninguém responsável iria ouvi-lo. Uma antiga colega dela disse que o horário da mulher havia mudado para a manhã. Informação recebida foi para casa dormir. Amanhã seria o dia: Ele sairia no meio do trabalho para se declarar a ela. Ele estava decidido.

E o dia logo chegou. Eram 11:45h. Era agora ou nunca. A fila de seu caixa possuía quinze clientes enfileirados com seus carrinhos lotados de gordura, guloseimas e papel higiênico. Era já: Largou os três quilos de carne, que passava no sensor, espirrando parte do sangue ainda contido na embalagem numa senhora que reclamava de dor nas costas e da demora do caixa. Ele iria para algum lugar. E ele foi... Ao banheiro.

Naquela noite, voltando para casa, ele estava de cabeça baixa se corroendo por dentro. Como ele poderia encontrar com ela sem perder o emprego? Resolveu descer três pontos antes e ir naquele bar já citado onde iria afogar as mágoas. Mas quando chegou ao local seus olhos brilharam: Ela estava linda, sentada no balcão, bebendo sua terceira garrafa de cerveja. Estava de frente para a mulher da sua vida: A outra que se arranjasse.